Porque mexer com relógios?
Algumas vezes encontro alguém que me pergunta porque mexer com relógios? O que você espera ganhar com isso?
Também muitas outras vezes me fiz essa pergunta e, acredite, foi um grande dilema durante algum tempo para mim. Senti a necessidade de contar um pouco como foi essa minha trajetória até aqui.
Nem sempre mexi com Relógios e me permita dar uma volta para mostrar minha vida e como cheguei aqui. Sou Engenheiro Mecânico com pós graduação em administração de empresas e especialista em logística de ferramentas de corte. Nada a ver com relógios, exceto pelo mecanismo desses aparelhos, relacionado à Engenharia. Adoro Engenharia Mecânica e desde criança desmontava as coisas e montar novamente. Nem sempre elas voltavam a funcionar novamente e sou muito grato a meus pais por terem paciência por tolerarem isso. A Engenharia foi uma influência de um tio que era engenheiro num empresa que hoje não existe mais, Villares Equipamentos em São Bernardo do Campo, São Paulo. Eu ficava estasiado quando ele contava as histórias que aconteciam no dia-a-dia dele. Resolvi fazer engenharia, mas passei para administração quando fiz pós graduação. Sempre fui muito bom tecnicamente e péssimo em lidar com pessoas. Imaginem um ogro. Eu. Algumas funções que um engenheiro exerce, não precisa ser bom em lidar com pessoas, é importante e ajuda, mas não é condição obrigatória. Um administrador tem que, no mínimo, saber como se relacionar e melhor será se conseguir ser um líder. Esse momento de autoconhecimento foi para mim um salto quântico. Comecei a buscar conhecimento em liderança e vi que estava na contramão. Nessa época já era responsável por algumas pessoas. Me afundei nesse assunto, fiz vários cursos e aprendi algumas coisas. Uma das mais importantes que aprendi com um grande amigo é: A diferença não está nas coisas e sim nas Pessoas.
Essa frase foi e é muito importante para mim. Imagine uma máquina como um carro, por exemplo, se não houver quem o crie e o dirija não passa de peso. A diferença entre esse monte de peso e algo que ela produz, como deslocamento nesse caso, são as pessoas que a criaram e a operam.
Alguns anos atrás tive uma vontade muito grande de usar meu dom (acredito mesmo que é um dom) de ter facilidade com mecânica. Naquela época me perguntava: O que fazer? Do nada, me veio a ideia de restaurações. Logo depois surgiu a ideia de relógios. Coloquei um anuncio sem pretensão e começaram a me procurar para restaurar relógios antigos. Primeiro veio um cuco e confesso que nunca havia mexido em um, nem sabia como abrir. Como é fácil para mim entender o funcionamento mecânico, fui me aventurando e aprendendo. Também a vários anos tenho um hobby que é marcenaria. No final consegui arrumar a máquina e restaurei a caixa do relógio cuco. Os Relógios foram aparecendo e eu fui restaurando-os. Cada um que chegava trazia um desafio diferente e eu pesquisava e achava uma solução interessante que servia para trabalhos futuros.
Minha vida mudou. Tomei um tombo grande na vida para mim. Hoje não lidero mais pessoas, não gerencio nada, mas sou muito satisfeito. Me sinto realizado.
Depois de toda essa história você pode concluir o que me levou a fazer o que faço, mas na realidade posso agora responder o porquê mexo com Relógios:
Sempre que recebo um Relógio para consertar ou restaurar vem junto com ele muita História. “Aquele Relógio foi do meu avô”, “sempre me lembro do meu pai dando corda”, “meus filhos viveram com esse Relógio”, “esse Relógio me foi doado por uma pessoa que amei muito”, “meu avô trouxe esse Relógio debaixo do braço quando veio da Itália”.
Eu respeito muito cada uma dessas Histórias e a única forma que tenho de honrá-las é devolvendo essas lembranças para a pessoa que me confiou o trabalho. Quando instalo o Relógio na parede e ele solta o primeiro som ou o primeiro cu-co depois de tanto tempo, me dá tanta satisfação em ver a emoção da pessoa que confiou em mim, que não é raro me emocionar junto com ela. Algumas vezes voltam histórias e eu fico ouvindo maravilhado. Já aconteceu de não receber pelo trabalho naquele momento para não quebrar o instante que aquela pessoa merece. É incrível como as pessoas tem histórias diferentes e lindas. Muitas e muitas vezes sofridas, mas lindas.
É assim, esse é o real e verdadeiro motivo que mexo com Relógios. Não me considero um Relojoeiro. Sou simplesmente alguém que pode trazer bons momentos para quem confiar em mim. Agradeço imensamente todos que confiaram. Espero que as os relógios que devolvi continuem gerando as boas emoções e que assim o façam por muito tempo.
Faça você o que puder por quem você puder. Você perceberá que a felicidade lhe invade e que sua satisfação vai crescer cada vez mais. Pensando nisso, quero lhe dar um presente:
Márcio Saconi