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Mestres Relojoeiros – George Graham (1674 – 1751)

George Graham
George Graham nasceu em 1674 na pequena localidade inglesa de Hethersgill, Cumbreland, existindo contudo outros registros que apontam para o ano de 1675, em Horsegills, Kirklinton. Embora pouco se saiba acerca das suas origens, Henry Lonsdale, nas suas “Worthies of Cumberland”, publicadas em 1875, atribui ainda a Graham outra provável data de nascimento, desta vez por volta de 1673. Filho de George Graham de Rigg, segundo consta nos livros dos “Quaker” (grupo religioso de tradição protestante), foi criado pelo seu irmão William devido à morte do seu pai quando ainda era muito novo.
Em 1688, com apenas 14 anos, tornou-se aprendiz do Mestre Relojoeiro Henry Aske em Londres, e após os tradicionais sete anos de aprendizagem, em 1696, entra ao serviço de Thomas Tompion, um dos mais conceituados relojoeiros da história da relojoaria. Nesta época, Graham é também admitido na conceituada “Worshipful Company of Clockmakers” da qual todos os grandes nomes da relojoaria inglesa fizeram parte. Ao serviço de Tompion supervisionou o trabalho de mestres como John Bird, John Shelton e mesmo Thomas Mudge, que foi seu pupilo e que posteriormente viria a inventar o escape de âncora, atualmente o padrão da indústria relojoeira. O destino, e alguma influência do próprio Tompion, levaram Graham a se casar com a sua sobrinha Elisabeth, filha de James of Ickwell, tornando-se sócio da empresa pouco depois, em 1711. Tompion morre em 1713 e Graham herda o negócio na esquina de Waterlane na Fleetstreet, numa altura em que pouco antes tinha atingido o grau de mestre atribuído pela Guilda de relojoeiros.
“George Graham, nephew of the late Mr. Thomas Tompion, who lived with him upward to 17 years, and managed his trade for several years past, whose name was joined with Mr. Tompion’s for some time before his death, and to whom he left all his stock and work, finished and unfinished, continues to carry on the said trade at the late dwelling house of the said Mr. Tompion, at the sign of the Dial and Three Crowns, at the corner of Water Lane in Fleet Street, London, where all persons may be accommodated as formerly.”
 
London Gazette, 28 de Novembro de 1713.
Em 1715 apresenta uma das suas mais significativas invenções, o “deadbeat escapement” ou escape Graham, seguido do pêndulo compensado por mercúrio, a repetição de minutos com batente e o primeiro cronógrafo funcional tal como o conhecemos na atualidade. Este último foi construído por volta de 1720, e era essencialmente um relógio capaz de medir a duração específica de um determinado evento com uma precisão de cerca de 1/16 de segundo, algo notável para a época, e que atualmente conhecemos por “Foudroyante”.
O quadro da autoria de Tomas Hudson (1701-1779), e que representa George Graham em pose formal, mostra ao fundo o pêndulo compensado da sua autoria, um pormenor que revela a importância desta inovação. Esta invenção destinava-se a reduzir o efeito das variações térmicas no pêndulo, e conseqüentemente no isocronismo do relógio. Combinada com o escape “Graham”, o sistema produzia um elevado grau de precisão, apenas suplantado bastante mais tarde em 1895, através da utilização do “Invar” por Charles Edouard Guillaume.
Em 1721, Graham torna-se membro da Royal Society e logo no ano seguinte Grande Mestre da “Worshipful Company of Clockmakers”. Em 1726 aperfeiçoa o escape de cilindro inventado por Tompion, que passa a utilizar quase que exclusivamente, em detrimento do escape de vírgula que empregava até então nos seus modelos. O relojoeiro Francês Julien Le Roy tendo tido acesso a um dos seus modelos em 1728, não hesitando em considerá-lo um sistema superior.
Além dos pêndulos, George Graham fabricava também excelentes relógios de bolso, que se caracterizavam por um mostrador em esmalte com ponteiros em aço azulado. Graham deu também seguimento à numeração desenvolvida por Tompion e que era aplicada, na maior parte dos casos, na platina superior e no lado inferior da ponte do balanço, esta última quase sempre profusamente decorada e com um diamante como suporte do eixo.
Graham não se limitou a absorver os ensinamentos do seu maior mestre Thomas Tompion, mas teve a “audácia” de melhorá-los e desenvolvê-los. Um exemplo são as alterações introduzidas ao escape de cilindro deste último. Tanto no cronógrafo como nestes últimos melhoramentos, George Graham declinou a oportunidade de patentear para seu proveito os novos sistemas. O seu caráter altruísta levava-o a considerar que estes novos conceitos e sistemas deveriam estar à disposição de outros relojoeiros para benefício de todos, uma particularidade que deve ser enaltecida mas que em última instância o levou a terminar os seus dias na pobreza. George Graham morre em 1751, infelizmente sem que saibamos muito acerca da sua vida pessoal.
Tal como no caso do seu mestre, o parlamento inglês concedeu a George Graham a honra póstuma de ser enterrado na abadia de Westminster, onde ainda hoje o podemos visitar. Graham não se limitou a ser um relojoeiro excepcional. Foi um grande pioneiro, astrônomo, inventor e conceituado fabricante de instrumentos científicos dos quais se destaca o planetário mecânico que construiu para o Conde de Orrery, e que posteriormente deu o seu nome a estes mecanismos. O sistema demonstrava a posição relativa dos planetas no sistema solar. A sua personalidade levou-o a financiar o arranque de um dos mais significativos projetos relojoeiros de toda a história, os cronômetros marítimos de John Harrison.